segunda-feira, 10 de junho de 2013

Hurtmold - Cozido


Experimental | Instrumental | Post - Rock (?) | Math Rock (?)

1 - Kampala
2 - Fontanka
3 - Bulawayo
4 - Desisto
5 - Credenciais
6 - Mike Tyson
7 - Dois Pés e Ingrato
8 - Filas Longas Taxas Altas
9 - Chepa
10 - Mais uma vez desanimou
11 - Ciesta


     Olá meus jovens. Tranquilidade? Desculpem o atraso nas postagens, mas meu tempo livre fez bem, já que  todos os álbuns já resenhados na Taverna estão upados e nessa semana atualizarei tudo. Essa semana também estava rolando um evento que acontece todo ano promovido, principalmente, pelo Constantina (banda que está aqui no acervo da Taverna) que chama Pequenas Sessões. Entre várias atrações interessantes como dosh e ThisQuietArmy, tive a oportunidade incrível de ver os paulistas do Hurtmold ao vivo e, como vocês podem estar vendo, foi tão bom ao ponto de querer mostrar mais um pouco do som desses caras. 

     Hurtmold, que já tem 15 anos de estrada, nasceu em São Paulo depois do fim de uma banda chamada Pudding Lane. Os caras acabaram conhecendo Mário Cappi e Maurício Takara (que é outro destaque pra mais tarde) e começaram a fazer um som. Conseguiram uma notoriedade em SP circulando duas fitas cassetes durante 98 e o ano seguinte. Em 2000 sai o primeiro disco deles, Et Cetera, que é, também, uma paulera sonora. O disco tem traços fortes da influência de bandas como Sonic Youth e Fugazi, banda com a qual o baterista, Takara, já teve participações. Mas não espere baixar esse disco e ouvir dissonâncias e experimentalismos extremistas ao estilo de Thurston Moore e Kim Gordon, porque o Hurtmold é uma das bandas que tiveram um dos maiores amadurecimentos musicais que ja vi.



      Se você ouvir a timeline dos discos do Hurtmold você vai parar e falar: "porra, heim? Que parada doida isso ai, cara!" - Et Cetera, Cozido, Hurtmold & The Eternals, Mestro, Hurtmold e Mils Crianças. 2000, 2002, 2003, 2004, 2008 e 2012, respectivamente. Os caras transitaram de uma sonoridade post-hardcore, punk, para uma composição sonora arranjada, como se Igor Stravinsky injetasse heroína e montasse uma banda de jazz com dois guitarristas. No show que presenciei nesta semana, eles tocaram praticamente toda a composição do disco lançado no ano passado e, meu irmão, os caras faziam umas quebras de tempo, uns arranjos dissonantes, mas ainda assim harmônicos, incríveis! Eu e o Tito (que voltará resenhando um puta disco nesta semana) ficamos pasmos com a complexidade dos arranjos, o sustain dos rifs repetidos, o feeling que todos os músicos exalavam em forma de música. Realmente sublime. E foi impossível perder tal oportunidade pois, pelo que eu saiba, Hurtmold tinha passado aqui em Belo Horizonte apenas na mini-turnê que fez com o The Eternals, para a divulgação do split que eles fizeram em 2003 e, nesse ano, meus jovens, eu nem lembro de sequer ter ouvido falar neles.

     Cozido é um dos trabalhos do Hurtmold que eu mais ouço. Ele é o marco do nascimento do som característico do grupo paulista, com uma levada menos punk e com experimentações que vibram pro lado de bandas como Tortoise, com toques da instrumentação de bandas do recém nascido post-rock, mas sem abdicar do tom brazuca que existe no som dos caras. É realmente um álbum de transição, passando de pauleras como "Mais Uma Vez Desanimou" para grooves controladíssimos como em "Kampala", que abre o disco. Apesar d'eu ter falado que Hurtmold se trata de uma banda instrumental, algumas músicas, neste e no primeiro disco (e algumas exceções espalhadas por outros álbuns) contem voz. Nesse disco, tudo é cantado em português, mas em outros Guilherme Granado também canta em inglês.




     Já deixei ai em cima o disco inteiro, pra os medrosos quem quiser conferir o som antes de baixar o disco. Mas já falo: Hurtmold é quebradeira. Acho que nunca vi um músico que diz que não gosta, de verdade, dessa banda, porque músico que é músico admira qualidade do trabalho dos outros e, qualidade no Hurtmold, é o que não falta. O disco abre com 3 músicas que são, na verdade, uma. Sempre que uma acaba já entra no ritmo da outra, naquele melhor estilo do Dark Side Of The Moon e Cia. As faixas cantadas são "Desisto", "Dois Pés e Ingrato" e "Mais uma vez desanimou" que, na minha opinião, são incríveis remanescências da produção do primeiro disco, não sendo piores que as outras mas, muito pelo contrário, são umas das minhas faixas preferidas do disco. Atenção pros arranjos da guitarra e do baixo em "Ciesta", aonde o groove vai te levando e, quando você percebe, está ouvindo os caras da banda discutindo entre suco de tangerina e laranja (sério).

     Interessante também citar, para quem se interessa, que Hurtmold está sendo, desde o disco Nós/Sou, a banda que toca, arranja, produz e se apresenta junto com o Marcelo Camelo. Não é atoa que esse disco tem um arranjo lindíssimo e muito bem feito. Se você se dedicar um pouco a ouvir Hurtmold e dar uma olhadinha no trabalho solo do Camelo, você vai acabar se surpreendendo. É realmente reconhecível os timbres do Hurtmold. Além do Marcelo Camelo, alguns integrantes da banda tem uns projetos interessantes também. Maurício Takara, o baterista, tem álbuns de estúdio de um som eletrônico/experimental ao nome de M. Takara e m. takara. 3, além de participar do São Paulo Underground. É uma característica intrigante dos membros do grupo participar de projetos paralelos. Entre os projetos estão MDM, Chankas, Bodes & Elefantes, Againe, Van Damien, Polara e Instituto.


     Hurtmold foi, e sempre será, minha banda preferida pra ouvir no centro de BH. Numa entrevista que eles deram, disseram que o som deles é muito influenciado pelo ritmo urbano e imparável de São Paulo. Claro que Belo Horizonte não se compara nesse quesito com São Paulo, mas mesmo assim é um sentimento caótico e cômodo ouvir Hurtmold na multidão, quase um anonimato urbano. Eu tinha o costume de parar no canteiro central de uma das avenidas mais movimentadas do centro da cidade, colocar Hurtmold nos fones de ouvido e olhar para o outro lado do cruzamento, assistir por dez minutos a ópera caótica que é o meio urbano de uma cidade grande ao som desse disco (Filas Longas Taxas Altas é a melhor para este ritual) . É uma experiência e tanto, quem sabe algum de vocês faz isso e gosta? Haha!

Então segurem esse som aí e aproveitem!

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